A Roubalheira no Fundo do FGTS - Artigo
O
fundo de Investimentos do FGTS e a anatomia de um “Projeto de Poder Espúrio”
O Fundo de Investimento
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FI-FGTS foi criado por autorização
da Lei no 11.491, de 20 de junho de 2007, iniciou suas atividades em 10 de
julho de 2008 – mesmo ano de implantação do FSB – Fundo Soberano Brasil.
O FIFGTS destina-se a
receber aplicações de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.
Tem por objetivo proporcionar aplicação de seus recursos na construção, reforma,
ampliação ou implantação de empreendimentos de infraestrutura em rodovias,
portos, hidrovias, ferrovias, energia e saneamento (na época do seu lançamento,
leia-se investimentos no PAC da era LULA), gerando rentabilidade. A
administração do fundo ficou sob a responsabilidade da Caixa Econômica, que por
sua vez contratou bancos privados ao longo de sua existência para as atividades
de tesouraria, custódia de títulos e gestão de ativos e passivos. O BRADESCO tem destaque já nos primeiros
relatórios. Contudo, quem dava as cartas era a Caixa Econômica através do seu
“Conselho Curador”. Já o Itaú aparece anos depois como o responsável pela
custódia dos títulos.
Salta aos olhos o
tamanho dos aportes oriundos do FGTS – mais de 30 bilhões - e pior, a aplicação
em empresas de capital fechado e com menos transparência nas suas
demonstrações. Além disso, investimentos em debêntures de grupos com o mesmo
perfil de Capital Fechado, BNDES (novamente aqui como no FSB) e alguns
consórcios formados por empresas ligadas a grande empreiteiras. Embora a mídia
e imprensa em geral tenham noticiado vários fatos relacionados ao fundo e a
lava jato, mas novamente as pontas não foram unidas, pois as informações
encontram-se difusas em relatórios, pareceres de auditoria externa e relatórios
de gestão (esses últimos muito superficiais e sem transparência), a exemplo do
que também ocorreu no FSB Fundo Soberano do Brasil.
A lava jato prendeu o
Cunha em função da má utilização dos recursos junto a empresas que pagavam
propina para ter acesso aos fundos. Atualmente delatores apontam o dedo para
diretores da Caixa Econômica, políticos, partidos e autoridades. Mas, além do
fato da desonestidade na utilização, é chocante o fato de tudo ocorrer com
tanta facilidade e com recursos públicos vultosos, e pior: com recursos dos
trabalhadores.
Ao mergulhar nos
relatórios de auditoria e demonstrações, as seguintes questões são inevitáveis:
- Onde estava o
TCU que não viu esse verdadeiro acinte e escândalo?
- Onde estava o
Comitê de Auditoria previsto no Estatuto do fundo?
- Onde estavam
os tais “representantes dos trabalhadores” que participam do Conselho Curador?
- Porque é tão
fácil se apossar de reursos públicos vultosos?
- O que de fato,
fundos como esse, com objetivos espúrios, representam?
- Qual cenário a
lava jato está desenhando com seu trabalho?
Ao mergulhar nos
relatórios e construir a “rastreabilidade” das operações (siga a trilha do
dinheiro), as respostas foram aparecendo. A partir de 2012 os pareceres de
auditoria externa traziam no seu corpo ressalva e parágrafos de ênfase sobre a
aplicação em empresas com pouca transparência, bem como ausências de pareceres
de auditoria nessas empresas. Em linguagem de leigo, ressalva em parecer e
parágrafo de ênfase significa algo de muito errado constatado durante os
trabalhos de auditoria das Demonstrações Financeiras.
O TCU sempre foi um
apêndice do legislativo e sua marca registrada é tomar ações após os fatos
consumados. Quanto aos representantes dos trabalhadores, quem conhece os
sistemas de controle da União, sabe que é assim: frágil, reativo e a mercê de
implicações políticas e que de “trabalhador”, não tem nada de concreto. Resta
então responder as duas últimas indagações do que de fato está por trás desse
fundo, incluindo a visão da Polícia Federal e do MPF.
Fica claro o projeto de
poder espúrio por trás de tudo isso, e o
“modus operandi” segue uma estratégia maior de poder desenvolvida com missão e objetivos
estratégicos claros, metas, ações e operações nos moldes de um “Planejamento
Estratégico” muito bem estruturado,
e que envolveu um grupo multidisciplinar
que conhece finanças públicas, mercado financeiro, legislação, sistema de
controle da União e dívida pública, além de estratégias de poder.
Os
QUATRO pilares operacionais são as Estatais, os fundos de
investimento, os fundos de pensão e a dívida pública (essa para tapar os
rombos). O objetivo era o de continuar no poder a qualquer preço e para isso,
dentre várias metas a de compras de partidos, de agentes públicos em estatais,
de políticos e autoridades nos três poderes, e com o apoio de parte do complexo
financeiro empresarial.
Seria o crime perfeito?
Sim e não. Sim por serem ausentes os controles mínimos sobre a utilização dos
recursos públicos. Não, se tivéssemos auditorias e instituições sérias o
bastante para trazerem a público os fatos de forma preventiva.
O planejamento
minucioso desse grupo de poder segue a seguinte lógica: a condição vital é a de primeiro criar um “apelo popular e nacional”
que justifique a engenharia financeira, depois definir a fonte dos
recursos, o volume dos recursos, os meios de utilização, os favorecidos e as
“reciprocidades” inerentes em dinheiro e serviços. Segue ‘a mesma lógica de uma
Tesouraria de uma grande organização, na qual as reciprocidades estão no leque
gerencial de quem fornece recursos abundantes e espera “retorno” sobre eles. O “apelo
popular e nacionalista” foi utilizado no fundo soberano ao apresentar o
desenvolvimentismo a partir do petróleo, no esquema da Petrobrás com o pré sal,
e o financiamento do PAC no FIFGTS como obras do “crescimento e da soberania
nacional”.
Quando a lava jato
mostrar o capítulo dos fundos de pensão – os investigadores já penetraram em
alguns – a “Caixa de Pandora” será aberta e mostrará valores inacreditáveis,
bem como exemplos dantescos de má gestão, fraudes, usos políticos, corrupção
passiva e ativa e todo o cardápio já conhecido. Aqui cabe uma ressalva
importante: antes da era Lula, esses fundos, embora sempre tenham sido objeto
do desejo de governos corruptos, possuía uma regulação que os impedia de
aplicar em ativos de risco. O governo Lula mudou isso ao autorizar esses fundos
operarem com derivativos (apostas na especulação financeira), trazendo a crise
internacional e a vulnerabilidade para esses fundos, muitos deles quebrados
atualmente.
Vamos aos números e aos
fatos:
1. Fluxo de mais de 30
bilhões em aportes do FGTS e a maior parte investidos em empresas com baixa
transparência para investimentos desse porte. Mais de 4 bilhões de reais aplicados em empresas citadas
na lava jato – até agora - pelo ex-vice-presidente da Caixa Econômica, envolvendo
investimentos, conforme algumas abaixo:
Eldorado Brasil
Celulose, All, Viarondon Concessionária, Odebrecht Transport, Odebrecht
Ambiental, Cone Brado Logística, OAS Óleo e Gás, Caixa Fundo de Investimento
Participações Amazônia Energia e Madeira Energia. Caixa Fundo de Investimento
Participações Saneamento, dentre outras.
O fundo possuía também
parte do patrimônio investido na empresa Odebrecht Ambiental que está sendo
investigada na operação Lava-Jato.
2. Além das
ações, os investimentos em debêntures, embora não esteja claro nos relatórios,
referem-se também a consórcios dos quais as empreiteiras da lava jato fazem
parte.
Em 31 de
dezembro de 2016, o parecer dos auditores ressaltava o seguinte:
“Conforme
demonstração da composição e diversificação da carteira, o FI-FGTS possui em
31de dezembro de 2016, investimentos em ações com e sem cotação em Bolsa de
Valores,debêntures não conversíveis em ações e cotas de Fundos de Investimentos
(“ ativos investidos”) no montante de R$ 23.981.555 mil, dos quais, R$
4.808.565 mil estão relacionados a empresas e/ou grupos econômicos, conforme
descrito na nota explicativa no 12.c, que estão em processo de investigação e
outras medidas legais conduzidas pela Justiça Federal e pelo Ministério Público
Federal, relacionadas a práticas de corrupção e lavagem de dinheiro. Não nos
foi possível determinar o estágio atual e os possíveis efeitos dos
desdobramentos destas investigações sobre as demonstrações financeiras do
FI-FGTS.”
3. Prejuízo de 1
bilhão de reais com a SETE BRASIL (PEDRO BARUSCO) em 2016.
4. Rentabilidade
negativa em 2015 e rentabilidades do fundo abaixo do CDI em todo o período de
2008 a 2015.
5. Falta de
transparência é clara, pois em junho de 2018 consta o exercício de 2016 - no
site do fundo - como a última Demonstração Financeira com Parecer de Auditoria.
Finalmente, exposto
o projeto espúrio de poder e suas nuances de ousadia e “expertises”, podemos
concluir quatro pontos importantes: Primeiro,
que a dívida pública será usada mais uma vez - pela emissão de títulos
públicos- para tapar o rombo, ou aportes da Caixa Econômica Federal, conforme o
governo já declarou na mídia. Segundo, perde muito o contribuinte e o
trabalhador, mais uma vez em detrimento de quadrilhas institucionais. Terceiro,
não há motivos para esse fundo continuar existindo. Quarto, fica claro que se
trata de algo único na história recente; a tal ponto de, por exemplo, o antigo
“mestre” em esquemas como o PC Farias,
se estivesse vivo, estaria se sentindo como um “menor aprendiz”. Definitivamente a jabuticaba brasileira inova
sempre, e para pior...
Mario
Nazaré: Auditor, especialista em Finanças e Gerenciamento de Riscos e professor
de cursos de Pós Graduação.
Pré - candidato a Deputado federal pelo PPL.
Um dos que
denunciou a imprensa em 1991, parte do esquema PC Farias envolvendo o BB e
Cobra quando então eu era Gerente de Auditoria Interna (sendo demitido por isso
na ocasião e ficado numa lista negra durante o governo Collor)...
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