A Hipocrisia no DIA Internacional da Mulher

Os desafios da Mulher no Brasil

Os Desafios Da Mulher No Mercado De Trabalho Atual e Futuro

            

“A mulher está para a sociedade como as abelhas estão para as flores: uma não existiria sem a outra. Nesse processo “mágico”, apenas as abelhas fêmeas trabalham”...
                                                                          Mario Nazaré

As conquistas alcançadas e o que ainda precisa ser feito

As lutas que as mulheres enfrentam cotidianamente para superar as desigualdades de gênero envolvem, em diferentes momentos da história e contextos sociais, dramas, tragédias e resistências na família, na escola, no trabalho, na comunidade, no partido, no sindicato e em outros campos da vida.

Exemplo disso é o relatório do Fórum Econômico Mundial que afirma que a igualdade de gêneros só será possível em 2095 e que a disparidade, quando se trata de participação econômica e oportunidades para as mulheres, gira em torno de 60%.

Porque tanto tempo para os avanços?

Não é de hoje que ouvimos sobre as dificuldades das mulheres no mercado de trabalho. O Brasil por sua vez está em 124º lugar, entre 142 países, no ranking de igualdade de salários. Somos o penúltimo das Américas, ficando à frente apenas do Chile. Em terras brasileiras, essa diferença salarial é uma variável que chama a atenção de imediato – já que o público feminino ganha em média 70% a 73,7% do salário recebido pelos homens, de acordo com pesquisa da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

A OIT – Organização Internacional do Trabalho e IBGE vem mostrando através de pesquisas os avanços conquistados pela mulher no mercado de trabalho, bem como os desafios das mulheres no futuro.

Nos últimos 50 anos, as mulheres têm deixado de atuar apenas no ambiente privado para também se lançarem no mercado de trabalho. Em 2007, as mulheres representavam 40,8% do mercado formal de trabalho; em 2016, passaram a ocupar 44% das vagas.

Os estados com menos diferença de participação no mercado de trabalho formal entre homens e mulheres são Roraima (49,6% das vagas de trabalho são ocupadas por mulheres) e Acre (47,2%).

A capital do Brasil dá o mal exemplo: Distrito Federal e Mato Grosso são as unidades da federação com menos percentual de mulheres em atividades formais, segundo o levantamento do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – 39% e 39,5%, respectivamente. A média brasileira é de 44%.

Além disso, o desemprego afetou menos as mulheres nos últimos cinco anos – período de 2012 até 2016, do que os homens, como apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base em informações do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho. De acordo com o IBGE, entre 2012 e 2016, o total de homens empregados sofreu redução de 6,4%, contra 3,5% entre as mulheres.

Já em 2017 o desemprego atingiu mais as mulheres, já que globalmente, a taxa de desemprego para as mulheres em 2017 é de 6,2%, representando uma diferença de 0,7 pontos percentuais com relação à taxa de desemprego dos homens, de 5,5%. 

A renda dessas trabalhadoras também tem ganhado cada vez mais importância no sustento das famílias. Os lares brasileiros estão sendo chefiados por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%. Cabe ressaltar que as famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas, havia a presença de um cônjuge.

A boa notícia é que as mulheres ocupam postos nos tribunais superiores, nos ministérios, no topo de grandes empresas, em organizações de pesquisa de tecnologia de ponta. Pilotam jatos, comandam tropas, perfuram poços de petróleo e em qualquer atividade hoje.

Não há dúvidas de que nos últimos anos a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. Contudo, ainda há um longo caminho a percorrer, por exemplo, quanto à participação em cargos de chefia e gerência nas empresas e organizações, que ainda é preciso avançar. Isso porque somente entre 5% e 10% dessas instituições são chefiadas por mulheres no Brasil, de acordo com um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O levantamento aponta também um crescimento na ocupação formal por mulheres entre 30 e 39 anos (43,8%) e entre 50 e 64 anos (64,3%). Os setores em que o percentual de mulheres ocupadas é superior ao dos homens são administração pública e serviços, enquanto homens são maioria na indústria de transformação; agropecuária, extração vegetal, caça e pesca; construção civil, serviços industriais de utilidade pública; e extrativa mineral. No comércio, a participação de homens e mulheres é bem equilibrada, sendo que 20,1% dos homens e 19,9% das mulheres estão no setor.

A mudança cultural e o papel das novas tecnologias no futuro

Há ainda outros desafios a serem vencidos, como o preconceito que as mulheres, inconscientemente, têm em relação a si próprias. Mergulhadas como estão no caldo cultural, um número considerável de mulheres ainda imaginam que não são capazes de atingir outros níveis dentro da organização porque ou não fazem o suficiente ou não são boas o suficiente...

A OIT também mostrou na sua pesquisa que a preferência e a decisão da mulher de participar no mercado de trabalho e seu acesso a empregos de qualidade, podem ser afetados por uma série de fatores, incluindo discriminação, educação, tarefas de cuidado não remuneradas, equilíbrio entre trabalho e família e estado civil.

Aqui temos um ponto que gera miopia na análise desse assunto: A questão qualitativa x a quantitativa, pois não é só participar no mercado, mas participar também em melhores oportunidades.

A conformidade do papel de gênero também afeta a restrição das oportunidades de trabalho decente para as mulheres. O relatório mostra que 20% dos homens e 14% das mulheres pensam que não é aceitável para uma mulher trabalhar fora de casa.

A educação fazendo a diferença

Embora no Brasil a questão da formação educacional das mulheres esteja aquém do desejável, os avanços são claros e visíveis.

A Fundação Seade mostra que, em 1994, 35% das mulheres contavam com o ensino médio completo. Ao final da década, esse número chegou a 43%. Na empresa do conhecimento, a mulher terá cada vez mais importância estratégica, pois trabalha naturalmente com a diversidade e processos multifuncionais.

Desde 2000 eu comecei a dar aulas em universidades, em paralelo as minhas atividades executivas, e durante esses 17 anos como professor, venho observando o crescimento do número de mulheres nos cursos superiores. Nos cursos de graduação e pós - graduação em Administração, Economia e Contábeis, o número de mulheres claramente supera o dos homens nos últimos 10 anos.

Com relação ao desempenho, as mulheres vêm superando, e muito, as questões cognitivas e o desenvolvimento de habilidades e competências durante os trabalhos, discussões e provas na sala de aula e fora dela. Não é a toa que costumo brincar com meus alunos ao me dirigir aos homens e comentar que: “vocês precisam estudar muito,  pois trabalharão para elas”...

Em função de mais qualificação e formação educacional, o que estamos constatando é uma quebra de tabus em segmentos que não empregavam mulheres. Nas Forças Armadas, por exemplo, elas estão ingressando pelo oficialato.

Tal fato desmistifica tabus e padrões machistas que sempre atribuíram às mulheres um padrão “inferior” ao do homem. Ora, não precisamos ir muito longe, pois a neurociência vem mostrando o tamanho da mentira que foi imposta durante gerações a esse respeito.

Para a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe (CEPAL), novas tecnologias de informação e comunicação são fundamentais para a elaboração de políticas públicas eficazes, que podem eliminar as disparidades entre homens e mulheres.

Essa realidade nos remete a questão da necessidade de uma formação generalista das mulheres, com apoio de “sistemas especialistas” que complementam as habilidades e competências femininas (humanas). O nível de complexidade e de excelência que os algoritmos em sistemas de inteligência artificial já são uma realidade que tende a se intensificar no futuro.

O cenário futuro passa invariavelmente pela revolução tecnológica em curso no mundo para garantir a equidade de gênero. Segundo os especialistas, as novas plataformas digitais, a inteligência artificial e as análises do big data são “tecnologias-chave” para formular e implementar políticas públicas sobre o tema.

O potencial econômico das mulheres ainda não explorado

A diminuição das diferenças de gênero no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB brasileiro em 3,3%, ou 382 bilhões de reais, e acrescentar 131 bilhões de reais às receitas tributárias. Para isso, seria necessário o Brasil reduzir em 25% a desigualdade na taxa de presença das mulheres no mundo do trabalho até 2025, compromisso já assumido pelos países que compõem o G20. Os dados fazem parte do estudo Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo – Tendências para Mulheres 2017, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Em números absolutos, se a participação feminina crescesse 5,5 pontos percentuais, o mercado de trabalho brasileiro ganharia uma mão de obra de 5,1 milhões de mulheres. Ainda segundo os dados da OIT, a taxa de participação na força de trabalho global para as mulheres em 2017 é de pouco mais de 49%, 27 pontos percentuais menor do que a taxa para os homens (76%).

A OIT prevê que essas taxas permanecerão inalteradas em 2018. No Brasil, 56% das mulheres estão na força de trabalho, índice melhor que a média global, mas ainda assim 22,1 pontos percentuais menor que a masculina, estimada em 78,2%.

Em 2014, os líderes do G20 se comprometeram a reduzir em 25% a diferença nas taxas de participação entre homens e mulheres até 2025. O relatório da OIT estima que, se esse objetivo fosse alcançado em nível global, ele teria o potencial de adicionar 5,8 trilhões de dólares à economia de todo o mundo, além de gerar grandes receitas fiscais em potencial.

Por exemplo, a receita global de impostos poderia aumentar em 1,5 trilhão de dólares, a maior parte em países emergentes (990 bilhões de dólares) e desenvolvidos (530 bilhões de dólares). A África do Norte, os Estados Árabes e o Sul da Ásia teriam os maiores benefícios, já que nessas regiões as diferenças nas taxas de participação entre homens e mulheres superam os 50 pontos percentuais.

De acordo com a OIT, a desigualdade de gênero continua a ser um dos desafios mais urgentes que o mundo do trabalho enfrenta. As mulheres são substancialmente menos propensas do que os homens a participar do mercado de trabalho e, uma vez no mercado de trabalho, elas têm menor probabilidade do que os homens de encontrar emprego, afirma o relatório.  Além disso, a qualidade desse emprego ainda preocupa.

A miopia na luta contra o machismo

O problema da diferença salarial, por exemplo, afeta especialmente as profissões de salário mais baixo. Quando sobem na carreira e adquire maior qualificação, as mulheres têm seu talento mais bem remunerado. Assim, no topo elas quase se igualam aos homens. O mais interessante é que nesse processo de conquista as mulheres que mais avançam são justamente aquelas que não fazem da condição feminina seu cavalo de Tróia, segundo a pesquisa da OIT.

Outro viés da luta pela inclusão da mulher em vários campos da sociedade, e em particular no mercado de trabalho, é o de muitas vezes estabelecer um cenário de confronto com os homens, desviando das questões principais como educação, autoestima e excesso de responsabilidades assumidas pelas mulheres, impedindo-as de galgarem postos de trabalho mais qualificados. São esses hoje os principais fatores que impedem as mulheres de aumentar sua participação.

No Brasil, boa parte de mulheres entre 15 e 29 anos interrompem os estudos e para de trabalhar para cuidar da casa. Entre o total de mulheres, 21,1% não trabalha nem estuda, contra 7,8% dos homens.

Para consolidar sua posição no mercado, a mulher tem cada vez mais adiado projetos pessoais, como a maternidade. A redução no número de filhos é um dos fatores que tem contribuído para facilitar a presença da mão-de-obra feminina, embora não isto seja visto, pelos técnicos do IBGE, como uma das causas da maior participação da mulher no mercado. Mas a qualificação é vital em todos os sentidos...

Conclui-se, portanto, que o aumento da participação da mulher no mercado tem relação direta com sua autonomia em termos de formação, responsabilidades, uso de tecnologia e tarefas assumidas no lar. Estamos falando também de uma mudança cultural que é causa e efeito de uma menor ou maior participação no mercado.

 “Não há nenhum mal que não venha um bem atrelado”...

Curitiba, 12 de fevereiro de 2018

Mario Nazaré

Professor e Sócio da empresa  Mario Nazaré Consultores & Associados Ltda.

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